Nova York, 1959, aos 44 anos, morria Billie Holiday, até hoje uma das peças fundamentais do jazz americano no quesito “profundidade da emoção”, se é que realmente essa expressão explique alguma coisa. Digo esse profundidade de expressão entre aspas porque a receita do bolo é a seguinte: pegue um timbre único e junte à uma imersão total no sentimentalismo de uma canção, uma receita que Billie não fez de maneira fácil em seus 24 anos de carreira como cantora. Aos dez anos foi violentada por um vizinho, aos 14 se prostituiu para ajudar a mãe em casa e, depois de uma vida cheia de turbulência, morreu de overdose de heroína, pobre e numa luta interminável contra o alcoolismo. Uma história como essas coloca o nome de Holiday num lugar confortável no Olimpo das cantoras que transmitiam a paixão, o amor e a vida em cima do palco – sem querer exagerar.
Não quero comparar, porque comparar é um argumento muito fraco. Mas 15 anos após a morte de Billie, na cidade universitária de Athens – Geórgia – nascia Madeleine Peyroux, que não tem qualquer semelhança com Holiday se não o mesmo timbre vocal e sensibilidade. É inacreditável se você comparar. Mas não vá achando que ser uma simples cópia é o único talento de Madeleine, que tem uma discografia rica que se dissocia e voa muito além do estilo da negra Billie Holiday. Madeleine disse para Jô Soares: “Admito que o tom de voz dela tem um aspecto que acabei de integrar ao meu modo de cantar porque ouvi as gravações dela por muitos anos”